ÉDISON PINHEIRO
( Brasil – Minas Gerais )
24 de janeiro de 1901 - Ouro Fino, Minas Gerais.
CADERNO DE POESIA - II. Santo André, SP: Clube de Poesia de S. André, 1954. 90 p. 15,5 X 22,5 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda.
Nossa Senhora
Quando, naquele dia de bonança,
O Altíssimo te deu a primazia
De ser a Mãe de Deus — doce Maria —
Foste a Nossa Senhora da Esperança.
Quando, naquele noite limpa e fria,
Que nunca te saiu mais da lembrança,
Nasceu Jesus, a Celestial Criança,
Foste a Nossa Senhora da Alegria!
Quando, naquela tarde feia e escura,
Cristo morreu no Gólghota maldito,
Foste a Nossa Senhora da Amargura!
E na manhã de intensa claridade
Em que o Senhor subiu para o Infinito
Foste a Nossa Senhora da Saudade!
Contraste
Por falta, apenas, de sinceridade,
Almas jungidas num fatal segundo
Encontraram o Amor neutro e infecundo,
A carência de mútua afinidade...
Desses seres que ostentam para o mundo
Simulada impressão de intimidade,
Teve a marcha-nupcial tons de Saudade
Como o canto do cisne moribundo...
Fingindo demandar o mesmo Norte,
Nem o beijo reuni as paralelas
Para a unificação dos dois caminhos...
E permanecerão até a morte,
Que entre sóis, luares e procelas,
"Quanto mais juntos, tanto mais sozinhos..."
Turbilhão
Na minh´alma há cachoeiras rumorosas
E lagos de águas mansas e azuladas,
Calmarias de tardes preguiçosas
E borrascas de ardentes alvoradas...
Há torres de mesquitas silenciosas,
Cruzes de tumbas mal-abandonadas;
Há sementeiras de meimendro e rosas
E silhuetas de ânforas e espadas...
Quer sob a ação dormente da morfina,
Ou o efeito das forças plutonianas,
Ao clarão das estrelas e dos círios,
Com paciência estoica e beduína
Vou, no tumulto das legiões humanas,
Despetalando glórias e martírios!
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Página publicada em novembro de 2022
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